terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Diário de Bordo # 04 - Viña del Mar

Chegamos cansados, sem dúvida.


-Alguém vai fazer algo?

Só o eco: aaaalgo...aaalgo...aaalgo...

Pois bem, vamos nós.

-Para onde?

-Pega um mapa.

-Viña é longe?

-Temos que cruzar metade do país.

-Topas?

-Vou pegar a câmera!

...

Óbvio que nessa história descemos na estação errada do metrô, embarcamos novamente de graça, paramos o ônibus no meio da rua - sem passagem e sem saber direito para onde ele iria, morremos de frio, nos perdemos, grana acabando...
É claro também que nem só de contras se faz uma aventura... Pisco Sour, Reineta com Alcaparras, cidade iluminada, troca mesa (por três vezes), último ônibus, taxista bacana, sono no ônibus, banheiro que não abre...tudo regado à muita risada.

Mas digo...ver o sol morrer no Pacífico e molhar os pés naquela água congelante (os dedos adormeceram...e foi só uma molhadinha)... não há o que pague.


Portão de Embarque

Quase todo dia passo por ali, nunca acompanhada.

Gostosíssima essa sensação de levar alguém. De "boa viagem", "me liga quando chegar", "te amo".

Até essa preocupação antes da mensagem do "cheguei" aparecer no visor é boa.

E que apareça logo...

Santiago, 24 de novembro de 2008.

Se soltei meia dúzia de palavras foi muito. Garanto que a maior parte delas composta por monossílabos: "é", "não"...

Momento raro, delicado, estranho... difícil. Tristeza comprada, porém grande.

Falávamos (ouvíamos) dele naquele (NAQUELE) instante: 20:45h.

O homem ficou sem chão. Está sem chão. Não posso - não sou capaz de - imaginar o tamanho dessa dor. Mas quis estar lá, monossilábica ou não: presente.

Porque quando saímos daquela sala, toda semana, compramos a briga dos outros. Uma "família por um dia" pode soar estranho, mas é assim que é: longe de casa a gente só tem a gente.

Força para ele.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Desejo de uma sexta-feira

Um estaciona o carro de qualquer jeito, o outro se esconde atrás da pilha de pastas. O terceiro não tira o jaleco branco nem para almoçar e a última esqueçe até o que estava dizendo.

Distância minha, estrada nossa.

Seja lá o que for isso que todos chamam de correria, tem sufocado por vias indiretas e ninguém está percebendo. Logo, logo está tão longe e enfumaçado que nem adianta gritar.

Estranho muito.

sábado, 2 de agosto de 2008

Tudo ficou bem pequeno, abafado pelo tamanho do sofrimento. Ridículo, mas não há nada a fazer.

Então ficamos aqui: a mesa e eu, pensando no quanto é bom tê-los por perto.

Lápis azul, lápis vermelho

Se eu fosse contar a história da menina-esquecida e do menino-de-pelo diria que se conheceram no céu, onde tudo é possível. Nesse mesmo dia perderam a noção do tempo (se é que no céu se preocupam com coisas assim) e ficaram por lá até cansar.

Mas a saudade (dessas que a gente sente de alguém que mal conhece) foi tão, mas tão enorme, que no outro dia já estavam juntos de novo, mas dessa vez no chão, caminhando até cansar pelas ruas do Sebastião-do-coco (e olha que o menino estava com o dedão estragado e tudo).

Se eu fosse contar essa história, diria que a menina-esquecida gostou disso e quis para sempre, mas o menino não. Não sabia o pobrezinho o que era querer para sempre. Por isso era o menino-de-pelo: ao invés de coração, tinha uma bolota peluda chiando no peito.

Mal sabe ele o quanto a menina ficou feliz no dia em que soube que a bolota havia começado a bater.

Mal sabe ele...



* acabou que o menino se esqueceu e a menina criou pelo no coração. Mundo engraçado...

segunda-feira, 23 de junho de 2008

CASTILHO

Algo que aprendi com meu avô e que carrego comigo todos os dias é a tal da honestidade. Honestidade que, junto com a palavra, é a única coisa que a gente tem e que a gente leva; que marca um (sobre)nome e que vai com a gente por onde a gente for.

Um pedaço da alma morre quando a gente descobre que essa honestidade não está no sangue azul. E que, por ter o sangue da mesma cor, você é responsável também.

Decepção é um sentimento podre... um dó que caiu e, de tão fraco, não tem força para levantar.

sábado, 21 de junho de 2008

Diário de Bordo # 03 - Brasília

Foi nos meadinhos de Maio que a rádio foi reinaugurada e deu dois mega-shows na Esplanada dos Ministérios. Como essa profissão tem dessas coisas, eu dei a sorte de estar por lá. Fã, nem de Zezé nem de Luciano, mas Ivete tem lá o seu mérito. Isso porque no final da tarde teve Marina Lima na rua de "casa", ou seja, três PUTA SHOWS (porque, querendo ou não, a produção é gigantesca) num dia só.

Mas, à parte os shows, massa mesmo foi entrar de bico - assim, na cara de pau (da Adriana) - no setor VIP e ficar na grade, de tão perto; escrachar os caras que pegam na mão, cutucar a gorda-empurradora, pular para chuchu, ser chamada de "patricinha", presenciar o pega-ladrão, ver Ivete chamando o fã de "vagabundo", e correr, mas correr muuuuito para chegar em "casa" antes de qualquer assalto.

E é claro que depois ninguém acreditou.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Diário de Bordo # 2 - Cuiabá (Chapada dos Guimarães)

A trilha fica por conta de Tetê Espíndola e Ney Matogrosso. O título, óbvio, "Chapada dos Guimaraes":




O pessoal estava animado e o dia bonito, então acordamos bem cedo (depois de míseras três horas de sono), alugamos um carro e fomos para a Chapada dos Guimarães.

Já havia estado por lá um ano atrás. Foi quando curti um dia todo de sol e cachoeira e perdi trezentas e tantas fotos no caminho de volta (não gosto nem de lembrar). Foi também quando perdemos (os três colegas justificam o plural) o ônibus, tomamos fanta por 0,50 e não tinhamos mais espaço nas pernas para picada de mosquito; quando gastamos demais e não tinhamos dinheiro para pagar "Seu Zé" do táxi, que andou conosco a tarde toda por lá.

Mas dessa vez foi diferente (e eu adoro como os mesmos passeios podem ser tão diferentes):

Para começar porque dessa vez fomos de carro, o que nos permitiu parar onde nos fosse interessante. Começamos pelo Portão do Inferno. Não fizemos o teste do "ponto morto"* (até porque a BR-251 estava bem movimentada), mas gritamos para o eco, de cima do precipício.


Seguimos para a Cachoeira da Mata Fria, Parque Nacional da Chapada (por sinal, fechado por conta dos desmoronamentos), pausa para o xixi, Cachoeirinha (boa dica é não esquecer o biquíni quando for para viagens assim), Cachoeira dos Namorados, Centro Geodésico (ah, meus 25 anos de sonhos, sangue e América do Sul...rs), Mirante, Cachoeira da Martinha.


Na Mata Fria uma trilha bem pequena e gostosa. Sensação única ouvir a água cada vez mais perto enquando se entranha na mata!


O Parque Nacional foi, de certa forma, uma decepção: não sabíamos que estava interditado e boa parte do passeio foi frustrada. De 'Véu de Noiva' e afins, só a lembrança da vez passada.

Mas o caminho até lá valeu a pena: A placa macaco-gambá-raposa, o 'Lago do Manso' logo ali, a 70 km (decidimos não ir), os cumprimentos da estrada (todos respondidos). Depois, a parada para subir em pedra e tentar ver melhor a paisagem (que 300 m. à frente estava mais que disponível no Mirante - dããã! rs), o Sr. Ivanildo, o pé na lama depois da trilha, estrada de terra, pips no mato, chuva (garanto que não combina com estrada de terra) e os 76 km da volta, que viraram quase 200 depois que nos perdemos (achamos o caminho graças ao Sr. italiano, que eu não lembro o nome, mas que era de 'Sobradinho', no RS.


No mirante a sensação única do silêncio falando mais alto e a vontade de deitar e esperar. Só esperar....


A energia é palpável, quase. Existe toda uma coisa mística por lá e os hippies** já sabiam disso muito tempo atrás. His(es)tórias de todos os tipos e a possibilidade daquilo tudo ser um ovniporto...tudo por lá tem esse clima.


Tentei eleger a melhor cena do dia. Bem, esta entrou no 'podium':


Os meninos tomando banho de cachoeira e a tica e eu do lado de fora, batendo os dentes de frio e rezando para eles terminarem logo. Ela para mim:

- A chave está com você?

- Não! Não está com você?!

- Ai meu Deus. OW!!! EEEEI!! MENINOS, A CHAVE ESTÁ AÍ?


Eles gritam algo entre si e eu só vejo o Thi batendo na testa, sentado na pedra embaixo da queda. Poe a mão no bolso e tira a chave do carro. Até aí tudo certo, não fosse o carro ter alarme e o controle estar no mesmo chaveiro.


Controle de alarme molhado não funciona e alarme não desativa sem controle.


Voltamos com aquele trem (William Tell Overture, para ajudar) acionado por três horas e tanto, dois postos policiais e uma parada (onde vendiam ovelhinhas de pelúcia lindas e caras). Ninguém deu bola...fossemos bandidos de verdade não teria feito diferença. Ninguém liga para alarme.



Quase atolamos uns dois pares de vezes. Nos perdemos, não enxergamos - o Thi dirigiu com a cabeça para fora por uma meia hora, pelo menos, enquanto eu tentava secar o vidro e segurava o circuito do alarme desmontado na frente do ar condicionado. Todos com a roupa enxarcada, hora para chegar e medo na espinha. Sem esquecer do pessoal do pau-de-arara (incluindo o cachorro) fazendo arruaça cada vez que passávamos com a bendita música da cavalaria, e as tantas pessoas que infernizamos com a pergunta: 'Para onde fica Cuiabá?' (imagino o que eles pensaram da cena: quatro pessoas ensopadas dentro de um carro embaçado, com um alarme disparado, pisca alerta aceso, perguntado sobre uma grande capital...).



E para provar que quando o astral do pessoal é bom tudo dá certo, chegamos a tempo e o alarme parou logo que entramos na cidade.

...


Meu tênis nunca mais vai ter a mesma cor.



M.


* Diz a lenda que carros desengatados, naquela subida, andam sozinhos.

** Tetê Espíndola liderava por lá!

*** Saímos de Cuiabá com o sol bem quente e chegamos na Chapada com o maior toró do mundo! Vai explicar...

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Virada virada

Virei.

Caindo, arrastando, sem saber mais o que dizia, pulando, gritando, abaixando, arrumando as costas, hora rindo, hora resmungando, hora olhando torto para o branco malvado, mas virei.

Mais uma vez a terra era de estranhos: Zé Ramalho, Mutantes, Cachorro Grande, Lobão (que ganhou minha fé) e Ultraje na - sim - maior concentração de gente feia por metro cúbico que eu já vi. E o bom TM me fazendo brilhar mais forte, de saudades, talvez.

Transformando tudo em muito bem, muito bom: Grande, Cabeça e Cabeça. Amo.

E para não esquecer, o zezão do arte-arte, o tiozão dançante do segundo andar, RedBull de
presente, programação no canteiro, pulseira de pano, chuva de papel na São João, mão do Wendell, Hang Loose, Super Hang Loose, pessoas nas árvores, a ponte de Londres, o fogo no colar, chuva de perfume, fila do banheiro do Mc, lanche no asfalto, malabares na Ipiranga, calcinha na varanda, estátua que resmunga (e bate com a bengala), o bêbado e o travesseiro-mochila, sono do minuto na tela de abertura, curtas invisíveis, a hora fria, boteco, chocolate com chocolate, boteco, misto quente sem presunto, caçadoras de celular, a múmia do Chapolin e a menina na árvore grande...que fechou dois guarda-chuvas e contou essa história também: http://katiakaori.wordpress.com/2008/04/27/virando-virada-viradona/

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Domingo eu vou...

O Morumbi não tremeu, mas o coração...

quando a bola deu no travessão, quando a mão que parecia cabeça marcou, quando Oliver Twist não pode entrar no estádio com a maçã-do-amor. Amor passando de um peito para o outro, assim, por proximidade, mesmo.

Calçada de formigueiro, bandeira-capa de superman, cheesepernil por cincão e uma OLA quebrada. Uma torcida de 1/4 toda colorida, acesa, bonita e embandeirada, calando a minha, maioria, pelada cor-de-pele, de uma forma para doer no coração. Nova lista de palavrões que
deixaria muita vovó de cabelo em pé.

Camiseta (com nome, claro), água e sorvete de abacaxi. Corrida para pisar na latinha, gesso da Jamaica, aplausos para a torcida.

Gol, caraio! Pula, grita, bate palma, abraça!

Meninas no estádio.

Vai lá de coração!

sábado, 29 de março de 2008

Toca logo, telefone

É tarde de sábado e minha alma está tão, mas tão ansiosa que não consigo raciocinar.

Esse silêncio meia boca (que a marretada de algum vizinho arrumando a parede quebra a cada dois segundos) me deixa um tanto mais aflita, de pernas moles.

A casa é um sossego e todos estão dormindo. Anos atrás, com dez pessoas aqui dentro, era bem diferente.

Hoje nem o vira lata da rua quer latir.

Esse marasmo lança meu coração pela garganta.

E só me resta esperar...

sábado, 22 de março de 2008

Alice e o coelho branco

Dessa vez ela não foi (muito) curiosa e ficou parada quando o coelho branco passou...

...


O jardim estava especialmente bonito. Tão bonito que ele se calou. Uma fonte iluminada no centro, balde na mesa, flores por todos os lados, a casa da fada na entrada, estrelas nos cantos, o quadro-planta que ilumina; até os insetos gigantes gostaram do aconchego e saíram dos buracos para o tronco das árvores, querendo aproveitar também.

Ficava à trinta metros a cidade, só trinta, mas ela esqueceu do movimento e do barulho. Sequer sentiu as quatro horas.

Talvez ela tenha olhado de uma forma diferente, mas dessa vez não viu nenhum relógio no bolso dele.
Só notou um nos olhos, desses que contam os segundos para algo grande acontecer.

quarta-feira, 12 de março de 2008

TAPIOCA

O primeiro problema de tentar fazer a tal da tapioca sem nunca ter experimentado, foi que eu não sabia exatamente como ela deveria ficar. Algo branco, em forma de meia-lua e gostoso: eis a missão.


Escolhi a tigela de cereal (um tanto pequena...boa parte da cozinha esbranquiçou).


Pacote aberto (meio quilo de uma farinha branca que estimulou a criatividade das meninas de casa), dúvida número um: "Quanto ponho?". Sem ninguém para me auxiliar com a sessão "tapioca-da-meia-noite", foi no chute... o bastante para forrar toda a frigideira. Bem, o rapaz que me vendeu disse que eu precisaria molhar um pouco. Mais uma vez... "quanto?"


Água na tigela.


Mistura,


mistura,


"será que vai manteiga?",


mistura,


mistura...


Meleca uniforme, coloquei na frigideira com bastaaaaante manteiga (independente dos efeitos que isso causaria, preferi não arriscar a possibilidade de passar boa parte da madrugada desgrudando sujeira de panela).


O que deveria virar quase uma omelete (imagino), precisou de uns bons apertões para sair do estado farofa-estranha. Amarela de um lado, branca do outro, "ah, faz de conta que eu gosto assim", hora do recheio. Queijo e orégano (melhor controlar o impulso criativo na primeira vez).

Acho que, no final das contas, o resultado não foi tão catastrófico. Talvez não tão branca ou arredondada como eu vejo por aí, mas com o gosto muito bom!


segunda-feira, 10 de março de 2008

Vez ou outra remexo as fotos ou procuro alguma entrelinha nos contos.
Algo para mim, assim, só para mim, escondido entre palavras sem muito sentido. Uma brincadeira íntima, coisa de dois, um apego, coisa nossa.
Mas não havia nada nosso.
Pena.

"Me deixa louco por saber que não estou onde há pouco eu reinava..." (Ludov)

sábado, 8 de março de 2008

Diário de Bordo # 01 - FORTALEZA

É assim, entre uma faxina no guarda-roupa e um estalo-telefonema, que o "diário de bordo" começa:

Se existe um canto nesse país onde eu moraria fácil, fácil, é Fortaleza!

Eita terra boa, não canso de dizer.

Já começa no avião, quando o Seu Silvio (com seu bigode de portuga) embarca. O homem corre, abaixa, levanta, faz tudo que tem que fazer do jeito mais cearense-simpatia!

Depois tem AQUELE SOL.
Certo que "aquele" Sol é o mesmo que esse, mas parece que é tão mais contente, mais gostoso! Muito justo o Ceará ser chamado de "Terra da Luz" (e eu, no lugar do autor, acrescentaria "E DE UM PUTA CALOR" ao nome).

Também gosto bastante da feirinha da beira-mar. Sempre dou um jeito de passar por lá, mesmo que só para passear, tomar sorvete, suco ou comprar qualquer coisa. Bacana que no caminho tem umas ondas que cospem em gente chata (mentira! Só quebram nas pedras e molham um pouco) e as moças que vendem cana. Isso! CANA-DE-AÇÚCAR vendida na RUA, onde mais tem? É muito (mas muuuuuuito) bom! O pessoal faz uma espécie de ramalhete de cana: várias rodelinhas espetadas na própria casca, do tamanho da mordida. Perfeito!

E tem também (a cada 20 passos) a tal da tapioca...

...que eu nunca provei.
Depois de mais de um ano indo ao Nordeste todo mês, é até vergonhoso escrever isso, mas é verdade! Nunca comi tapioca. Já tive chances, mas nunca arrisquei.

Até hoje!

Adivinha só se eu não comprei (por R$ 2,00) meio quilo de uma farinha que (o moço garantiu) não precisa de nada além de uma leve umidecida para ir para a frigideira?

E vai ser de queijo!

quinta-feira, 6 de março de 2008

Zoológico

Muito certo que zoológico combina com criança e gritaria. Mas digo: ir ao ZOO numa quarta feira, com só meia dúzia de visitantes, enquanto o resto do mundo trabalha é tão mais legal (hehehe!).


Diferente, ao meu ver, as girafinhas ainda sem nome.


Igual e muito bacana, por sinal, o tigre branco, o punhado de urubus gorando a leoa, o mico-leão dourado, o elefante (sabe teletransporte, só pode!), o suricato, a pomba da mira precisa, o supercroc, o tucano (aaaaaah, o tucano!), a casa assombrada das cobras gigantes...


Tudo isso com direito a acompanhar a cantoria das vovós (e os três vovôs, claro) do Coral Cristal, de São Bernardo do Campo, e descobrir o Juco de Anacardo.


Folga curtida!


PS: Abelhas também poderiam folgar às quartas.
PPS: O tigre eu não sei, mas o lobo europeu, na Europa....
*Foto by Dedé.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Quem?

Rio de Janeiro, depois das 23:30. Toca o telefone no quarto do hotel:

- Oi Mô, tudo bem?
- Boazinha, e você?
- Bem também. Sabe quem é?
- Ãh....não!
- Poxa, tem que saber!
- Não sei.
- Vamos falando que tu descobre...
- Eita, homem, fala logo! Não estou lembrando da tua voz...
- Não, relaxa... Mas e aí, vai sair com o pessoal?
- Mas rapaz, são 23:30 da noite!
- Pois então!
- Tá maluco? Meu vôo sai amanhã cedo.
- O meu também, não por isso.
- Mas eu não saio com estranhos.
- Mas guria (risos), tu me conhece!
- Não (mais risos), não sei nem teu nome!
- Engraçadinha! Vem cá, quando tu volta pra São Paulo?
- Amanhã as 15:00.
- A gente também! Vai direto pra São Bernardo?
- Fazer o que em São Bernardo?

- ... (silêncio) ...


- Você não é de São Bernardo?
- Não!
- Peraí... voce é loira?
- Não.
- Não é Mônica?
- Sim.
- Aí é o 673, não é?
- Sim, mas acho que você tá conf....
- Sai na janela!
- QUÊ?
- Sai na janela...

(cabeça para fora)

- (no telefone) POUTZ, NÃO É VOCÊ!
- Cadê você?
- NOSSA, NÃO É VOCÊ! AQUI EM CIMA!
- Sim, sou! (risos)

(Constrangido foi pouco...)

- Ai, desculpa! Tá muito tarde...nossa!!! Desculpa...eu achei que fosse outr...desculpa guria, não sei nem onde...
- HAHAHAHAHAHAAHAHAHAHAAHAHAHA!!!! Eu disse que eu não te conhecia.

(cabeça para dentro)

- Acho que confundi o sobrenome, só pode... mas eu olhei na lista...
- Não esquenta, tico, acontece.... ãh.... como é mesmo teu nome?
- De jeito nenhum!
- Qual o problema?
- Não quero virar lenda!
- Já é!
- Vai contar pra todo mundo?
- Pode apostar!

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Em bife e batido, por favor!

Eu não sei comprar carne.

Não entendo como carne de boi pode ter nome de ave. Não entendo como os coxões podem ser duros e moles. E o "de primeira" e "de segunda", então? Carne é carne, poxa. De boi, de frango, de peixe...

Foi pensando nessa equação toda que cheguei ao açougue hoje, e até que me dei muito bem com o meu "quilo e cem" de coxão mole (não esqueci nehuma das frases mágicas recomendadas por vovó: "não pega o começo"; "pede em bife"; "diz para ele bater").

Teria sido perfeito, não fosse alguma velhinha confusa levar meu complexo pedido embora.

Deixou no lugar uma sacola com um quilo de frango e um par de óculos.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Histórias de ponto

Avenida Angélica.
Um senhor me pergunta sobre qual ônibus deve "tomar".
Resposta, dada, senhor sarisfeito; todo simpático continuou a conversar (e eu realmente me admiro com a capacidade que os velhinhos têm de embalarem uma conversa).
Pois aquele senhorzinho com jeitinho de dono de quitanda, me contou, foi um dos primeiros diretores do colégio onde estudei. Coincidentemente mora a 200m da minha casa e passa em frente ao meu portão toda semana.
Incrível! Naquele colégio meu "instinto professora" começou a brotar. Naquele colégio eu ainda vou lecionar e é naquele colégio que ainda vou montar um "Help Vestiba". E um dos responsáveis por isso tudo bem ali, na minha frente, de sandálias, camisa xadrez, mão no bolso...esperando o ônibus para a Rua Maceió.




*Da época em que eu fazia pedagogia.

Ventania

E conforme a menina bordava o resto do mundo mudava.

Fizesse ela o sol, lá estava ele dançando no céu. Bordasse um sorriso, os corações se alegravam; uma flor, outras tantas brotavam.

Passava tardes inteiras sentada na grama com agulhas e linhas de todas as cores, desenhando o rumo do mundo.


Parou de repente.


Cabeça erguida, enterrou a agulha com a linha vermelha na terra fofa;


Levantou;


Agarrou com cada mão uma ponta do pano;


Fechou os olhos; ergueu os braços.


Correu...


O coração que tivesse paciência.

Relicário

Minhas velharias estão ameaçadas de extinção.

Vou continuar guardando as tralhas por aqui, então.

Haja...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Inferno!

Na semana passada meu nick no MSN era Inferno!
Está aí uma palavra de efeito. Não me lembro de tanta gente perguntando o "por quê" em nenhuma outra ocasião.

Inferno porque minha barriga dói;
porque eu tomei um pé;
arrombaram meu portão;
Inferno porque meu computador está quebrado há cinco meses;
minha rúcula estragou, a conta estourou e esqueci da feira.

Mas esse mal-humor é só a tensão mensal.

Inferno!

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Cidade

Voltando do aeroporto de Viracopos, em Campinas, vi as torres da Paulista surgindo longe.


Certa vez a Fabi e eu, no colegial, fomos até a casa da então patroa dela. O mês trabalhado ainda não havia sido pago - e se existia alguém no mundo que sabia como enrolar, era a tia Beth.


Depois de um fantástico chá de cadeira, saímos da casa com muito "blá, blá, blá" na cabeça e nenhum dinheiro no bolso.
A Bi (por menos que goste da contração) nervosa, com lágrimas nos olhos e eu ali, no papel de amiga-laranja-do-apoio-moral-sem-nada-a-dizer.


Sentamos na calçada de uma das ruas (que ladeira!) mais altas do bairro, ali, na frente da casa da megera. Já era noite.

...

Silêncio leve.

...

- Sabe o que é aquilo?
- O quê?
- As torres, ali.
- Acho que é a Paulista.
- Que Paulista? Avenida Paulista?
- É...lá é bem alto. Aquela ali é a do Sumaré, acho.
- Tá louca...a Paulista é longe!

E é mesmo. Quase tudo é longe quando se mora em Pirituba. Para mim, sempre em casa, a Av. Paulista era o lugar da manutenção do aparelho, onde eu só chegava depois de uma hora e meia de ônibus. Uma viagem.
Ser tão visível do alto do bairro foi, no mínimo, inesperado.

E bonito.

Não lembro sobre o que falamos depois, mas foi o relógio que nos mandou para casa.

"...The lights are much brighter there
You can forget all your troubles,
forget all your cares..."
(Downtown, Petula Clark - 1964)

Cegueira

Eu perdi meu dente de leite.
Perdi minhas meias, minha boneca da Angélica;
perdi meu dinheiro (indo para o mercado), perdi meu guarda-chuva, minha pipa, meu pião;
perdi minha chave, minha jardineira, minha sandália;
"perdi meu coração no coração de quem perdeu meu coração";
meus brincos, meus chinelos, perdi o show do Zeca Baleiro, o boleto do curso, perdi incontáveis oportunidades de fotos lindas;
perdi a esperança, a fé; perdi a aula, a capacidade de ver formas nas nuvens;
perdi a calma, a paciência, o lugar na fila, o filme de sexta;
perdi a chance de ficar calada.

"SANTA LUZIA PASSOU POR AQUI COM SEU CAVALINHO COMENDO CAPIM"

(em 07.06.2005)

Baú

Me veio à memória agora, entre a pasta de contas à pagar e o monitor:

Eu era bem pequena, porque ainda não alcançava a mesa sem dificuldade. Minha avó passava a roupa ali no canto: camisa, toalha, calça, meia... toda essa roupaiada que uma casa com nove pessoas tem; eu no outro canto da cozinha, observando e comendo pipoca (essas pipocas doces deliciosas, que vêm no saquinho rosa).

Pipoca acaba rápido; fiquei com o saquinho na mão; mão melada, o saquinho vai para o bolso; saquinho amarrotado no bolso suja a roupa, a vó dá bronca, então volta para a mão melada.

Feio aquele saquinho... todo dobrado, amassado. Alisa daqui, alisa dali...

"Cuidado com o ferro quente!"

A velhinha saiu para guardar a roupa e minha lâmpada acendeu. Dá-lhe ferro quente no pobre do saco colorido.

Devo ter ficado sem televisão por uma semana. Acho que no quadro de punições da minha casa esse seria o castigo.

O ferro, coitado, deve ter pedacinho de plástico grudado até hoje.

Coisa de criança, não sei...só lembrei.

(em 28.06.2006)

13:00 às 14:00

Entra, lava as mãos, pega o prato.
Escolhe primeiro a salada: aquela com frutas. Depois vêm os legumes, arroz, feijão, carne.
O que vai ser hoje? Suco de laranja.
Já lhe disseram que suco de laranja não é o melhor pedido, que suco de laranja se toma em casa, no café da manhã. Mas ela gosta. E sem açúcar, por favor!
O som dos garfos nos pratos é irritante e o futebol na televisão passa a ser a tentativa de distração.
Copa do mundo, hora de ser patriota.
Patriotismo...isso é importante. Talvez seja o que falta nas pessoas. Talvez patriotismo unido à não-violência resulte num projeto proveitoso. Meu Deus, o projeto! Caiu no esquecimento. E aquela idéia da apresentação do vestibular para a molecada? Engavetada, esquecida.
Precisa se mexer, isso é urgente. O bife está bom mas tem gente apanhando lá fora.
Gol! Tunísia!
Vai perder o bolão, apostou na Arábia. Ou talvez virem, não entende de futebol.
Celular na mão, mensagens, enviar.
Te adoro, muito mais que ontem.
Agora sim, tudo em paz.
Faca e garfo cruzados, olha envolta, comanda na mão, boa tarde!

Detesto almoçar sozinha.

Só com o tempo

Falar tem sido difícil.

A pergunta: "o que você tem feito nos últimos 17 meses"?

Resposta óbvia martelando ("nada", "nada", nada") e o cérebro se contorcendo para encontrar alguma luta com mil dragões, uma viagem espetacular, uma mudança no cabelo ou uma aventura qualquer. É lógico que eu não tenho feito "nada" nesse tempo todo. Mas foi o "nada" que saiu, numa voz escondida.

Assisti várias peças, shows, filmes; novos amores vieram, ficaram um pouco, acabaram; comi coisas estranhas, voltei a andar de bicicleta, saí da faculdade, retomei minhas auto-lições de inglês, encontrei meu marido dos oitenta anos, aprendi sobre aviões e reatei laços antigos (alguns não tão antigos assim); a palavra "família" tem tido, a cada dia, um novo sentido; cheguei em casa com o sol nascendo, me fantasiei, ganhei uma promoção; baguncei, quebrei o aquário do falecido peixe (foi um acidente), gastei dinheiro com livros, fui ao estádio, vi o Ceni marcar um gol, usei saia, gastei dinheiro com porcarias, comi churrasco na rua, usei rímel, aprendi uma mágica nova (essa é uma das porcarias com as quais gastei dinheiro), usei salto, aprendi o significado de "herege" e joguei minhas agendas dos anos 90 no lixo.

Por que essa dificuldade de dizer as coisas na hora que elas têm que ser ditas?


HEREGE: adj. e s.m. Que ou aquele que professa uma heresia ou doutrina contrária aos dogmas da Igreja. / Pop. Ateu, ímpio, o que não vai à missa nem comunga.

(em 19.06.2006)

"Lembre-se sempre de que sua decisão de ser bem sucedido é mais importante do que qualquer outra coisa."

Recebi essa mensagem hoje - uma afronta no celular, mas discordo.
A decisão de ser bem sucedida é importante, mas bem mais importante, por exemplo, é ter saúde mental para não enlouquecer caso a decisão se torne frustração.
O fato de DECIDIR, em si, é também importante, e buscar a realização mais ainda, mas eu garanto...não mais importante que qualquer outra coisa.

Who will save your soul?

Acordei feia hoje. Auto estima no chão.
Foi por isso que mudei os planos, ouvi Alanis, comprei um sapato e peguei outro ônibus.
Vim para o trabalho cantando uma velharia da Jewel.
Absurdo, mas esqueci de almoçar.
Acho que são esses óculos...fico estranha.

(em 06.07.2006)

Ih, caiu!

Minha vida é fantasticamente comum, mas vez ou outra acontecem algumas coisas inacreditáveis.
Dia desses fui à clínica buscar minha lente de contato (e o fato de que eu sempre perco a lente do olho direito é uma das coisas inacreditáveis que acontecem).
A atendente me pediu para aguardar um instante enquanto ela lavava a lente, conferia, guardava e tudo mais. A moça demorou, demorou, até que voltou à recepção com um sorriso bobo no rosto e perguntou:
-Mônica, como foi que você perdeu sua lente?
Eu, achando que o Dr. Jorge já ia mandar uma bronca via atendente:
-Foi na hora de tirar. Ela pulou.
A moça coça a cabeça com o indicador:
-Então...essa acabou de pular também.

(em 07.07.2006)

"Mesmo em meio à multidão me sinto deserto"

Vou contar, mas aviso que não faz muito sentido; tentarei da melhor forma possível:

Eu estava chorando tanto que já havia se formado um lago, como na estória da Alice. Ainda era dia (bem quente, aliás, e com um sol lindo) mas a lua teve pressa: enorme, gorda, logo ali, em cima das árvores.
Um menino estava dormindo na beira do lago, mas acordou com a água molhando seu tênis e veio logo, perguntando (acho que com medo de se afogar):"Eu sei que não está tudo bem, mas posso ajudar?".
Eu respondi que não. Na verdade ele podia, mas eu não sabia disso. Não importa, ele sabia. "Eu sou sonhador...sabe aquele outro lago? Fui eu que fiz."
Então nós rimos um bocado e cantamos algumas coisas (e o lago começou a dançar) até que o frio chegou perto, com inveja da cantoria. Nós corremos tanto que o deixamos para trás.
A lua já estava bem no meio do céu... hora de ir embora.

Foi um prazer.

"...sem horas e sem dores, que nesse momento um possa se encontrar no outro e o outro no um. Até porque tem horas que a gente se pergunta..."

* Ao Ricardo, por cada risada de ontem.
** Nunca mais como Danette com você.

(em 10.07.2006)
Não conheço mais de Fernanda Young do que a Nata me apresentou em seus textos; mas, se alguma coisa mexeu comigo, foi o que F.Y. escreveu à 'prezada mulherzinha'.

Não vejo como alguém pode ser mais 'mulherzinha' que eu.

Mulherzinha de alma vendida, ridícula, sem amor, estagnada.

Um soco na boca:

"Se continuar assim, nunca vai aparecer aquele cara bacana que você gostaria que aparecesse; para lutar por você, até te conquistar, e destruir essa tua linda silhueta com uma gestação de 15 quilos".

*"Eu perdi meu coração no coração de quem perdeu meu coração"

(em 19.07.2006)

O Chiiiiiiiiiina

O China é um senhor que mora embaixo de um carrinho de apanhar papelão na primeira esquina da rua. Tem os cabelos brancos na altura do queixo e aqueles olhos ao mesmo tempo puxados e arregalados que só os chineses têm. Na boca faltam alguns centroavantes, mas anda com esse sorriso banguela e o inseparável boné pelos Jardins o dia todo, sempre com uma porção de caixas no ombro. O carrinho dele, todos os dias, quando passo por lá, está com uns três metros de altura. Não entendo muito bem de medidas e nem sei onde ele arruma tanto papelão (esse povo daqui é tão sovina), mas o fato é que o carrinho fica bem alto.


Quando o China (ninguém sabe o nome de registro dele) chegou, há algum tempo, tinha uma cadela preta. Hoje tem três. As cachorras têm aquelas tigelas de metal para comida e o China arruma as três bem perto da guia da calçada, uma ao lado da outra.


É cuidadoso: prende as cadelas na coleira, amarra no carrinho, dá banho nas "meninas", limpa a casa e tem as cobertas todas dobradas debaixo do carrinho, do lado do rádio de pilha.


O pessoal daqui diz que o China na verdade é rico, que essa coisa de morar na rua e catar papelão dá dinheiro.


Sovinas e cretinos.

(em 04.08.2006)