quinta-feira, 15 de maio de 2008

Diário de Bordo # 2 - Cuiabá (Chapada dos Guimarães)

A trilha fica por conta de Tetê Espíndola e Ney Matogrosso. O título, óbvio, "Chapada dos Guimaraes":




O pessoal estava animado e o dia bonito, então acordamos bem cedo (depois de míseras três horas de sono), alugamos um carro e fomos para a Chapada dos Guimarães.

Já havia estado por lá um ano atrás. Foi quando curti um dia todo de sol e cachoeira e perdi trezentas e tantas fotos no caminho de volta (não gosto nem de lembrar). Foi também quando perdemos (os três colegas justificam o plural) o ônibus, tomamos fanta por 0,50 e não tinhamos mais espaço nas pernas para picada de mosquito; quando gastamos demais e não tinhamos dinheiro para pagar "Seu Zé" do táxi, que andou conosco a tarde toda por lá.

Mas dessa vez foi diferente (e eu adoro como os mesmos passeios podem ser tão diferentes):

Para começar porque dessa vez fomos de carro, o que nos permitiu parar onde nos fosse interessante. Começamos pelo Portão do Inferno. Não fizemos o teste do "ponto morto"* (até porque a BR-251 estava bem movimentada), mas gritamos para o eco, de cima do precipício.


Seguimos para a Cachoeira da Mata Fria, Parque Nacional da Chapada (por sinal, fechado por conta dos desmoronamentos), pausa para o xixi, Cachoeirinha (boa dica é não esquecer o biquíni quando for para viagens assim), Cachoeira dos Namorados, Centro Geodésico (ah, meus 25 anos de sonhos, sangue e América do Sul...rs), Mirante, Cachoeira da Martinha.


Na Mata Fria uma trilha bem pequena e gostosa. Sensação única ouvir a água cada vez mais perto enquando se entranha na mata!


O Parque Nacional foi, de certa forma, uma decepção: não sabíamos que estava interditado e boa parte do passeio foi frustrada. De 'Véu de Noiva' e afins, só a lembrança da vez passada.

Mas o caminho até lá valeu a pena: A placa macaco-gambá-raposa, o 'Lago do Manso' logo ali, a 70 km (decidimos não ir), os cumprimentos da estrada (todos respondidos). Depois, a parada para subir em pedra e tentar ver melhor a paisagem (que 300 m. à frente estava mais que disponível no Mirante - dããã! rs), o Sr. Ivanildo, o pé na lama depois da trilha, estrada de terra, pips no mato, chuva (garanto que não combina com estrada de terra) e os 76 km da volta, que viraram quase 200 depois que nos perdemos (achamos o caminho graças ao Sr. italiano, que eu não lembro o nome, mas que era de 'Sobradinho', no RS.


No mirante a sensação única do silêncio falando mais alto e a vontade de deitar e esperar. Só esperar....


A energia é palpável, quase. Existe toda uma coisa mística por lá e os hippies** já sabiam disso muito tempo atrás. His(es)tórias de todos os tipos e a possibilidade daquilo tudo ser um ovniporto...tudo por lá tem esse clima.


Tentei eleger a melhor cena do dia. Bem, esta entrou no 'podium':


Os meninos tomando banho de cachoeira e a tica e eu do lado de fora, batendo os dentes de frio e rezando para eles terminarem logo. Ela para mim:

- A chave está com você?

- Não! Não está com você?!

- Ai meu Deus. OW!!! EEEEI!! MENINOS, A CHAVE ESTÁ AÍ?


Eles gritam algo entre si e eu só vejo o Thi batendo na testa, sentado na pedra embaixo da queda. Poe a mão no bolso e tira a chave do carro. Até aí tudo certo, não fosse o carro ter alarme e o controle estar no mesmo chaveiro.


Controle de alarme molhado não funciona e alarme não desativa sem controle.


Voltamos com aquele trem (William Tell Overture, para ajudar) acionado por três horas e tanto, dois postos policiais e uma parada (onde vendiam ovelhinhas de pelúcia lindas e caras). Ninguém deu bola...fossemos bandidos de verdade não teria feito diferença. Ninguém liga para alarme.



Quase atolamos uns dois pares de vezes. Nos perdemos, não enxergamos - o Thi dirigiu com a cabeça para fora por uma meia hora, pelo menos, enquanto eu tentava secar o vidro e segurava o circuito do alarme desmontado na frente do ar condicionado. Todos com a roupa enxarcada, hora para chegar e medo na espinha. Sem esquecer do pessoal do pau-de-arara (incluindo o cachorro) fazendo arruaça cada vez que passávamos com a bendita música da cavalaria, e as tantas pessoas que infernizamos com a pergunta: 'Para onde fica Cuiabá?' (imagino o que eles pensaram da cena: quatro pessoas ensopadas dentro de um carro embaçado, com um alarme disparado, pisca alerta aceso, perguntado sobre uma grande capital...).



E para provar que quando o astral do pessoal é bom tudo dá certo, chegamos a tempo e o alarme parou logo que entramos na cidade.

...


Meu tênis nunca mais vai ter a mesma cor.



M.


* Diz a lenda que carros desengatados, naquela subida, andam sozinhos.

** Tetê Espíndola liderava por lá!

*** Saímos de Cuiabá com o sol bem quente e chegamos na Chapada com o maior toró do mundo! Vai explicar...