domingo, 25 de julho de 2010

A MENINA QUE ESQUECIA

Saímos de casa de mãos dadas, numa despedida silenciosa da qual só eu sabia. Caminhamos até o ponto de ônibus e esperamos um bocado até que algum que pudesse nos levar ao metrô aparecesse. Já no metrô, seguimos à rodoviária estadual.

“Bom dia! Uma passagem para Bragança Paulista.”

“Somente uma, senhora?”

“Por favor.”

Janela escolhida (sempre a janela), chegara a hora. Menos de quinze minutos para fazer tudo: escolher um lugar, evitar o constrangimento de ser pega, comprar um lanche, descer as escadas, chegar à plataforma 23 e embarcar. Coisa rápida.

Dia importantíssimo, porém tranqüilo – ruas, lojas e corredores na mais pura calmaria. Penso que todos os dias poderiam ser como manhãs de domingo: nada de trânsito, nada de barulho e nada de blá blá blá. Sonho...

Há algum tempo vinha pensando em como faria, quando fosse tempo. Acontece que o tal do tempo havia chegado e eu não tinha idéia de como seria. Tudo o que eu planejei, todas as possibilidades, pareciam ridículas e impraticáveis. Mas eu não adiaria nem um minuto mais.

Escolhi um banco azul vazio; três assentos, na verdade. Algumas pessoas no banco de trás, mas naquele, ao lado da lixeira, ninguém. Ao menos por enquanto.

Sentei-me, olhei para os lados. Só precisava ficar alguns minutos sentada, fazendo qualquer coisa. Peguei o celular, fucei qualquer bobagem, olhei para o relógio e me levantei.

Adeus, Liesel.

Deixei-a ali mesmo, quase no corredor central da Rodoviária de São Paulo, e saí andando com medo de ouvir alguém gritando “moça”.

Liesel ficou no banco, esperando algo acontecer.

Quis muito me sentar por ali e descobrir qual seria o seu destino.

Talvez alguma criança tenha encontrado o livro e usado como matéria prima para aviões de papel, ou talvez ele tenha ido parar no setor de achados e perdidos da rodoviária, sem que quem o encontrou tenha tido sequer a curiosidade de abrí-lo, para ver meu recado. Ainda: quem sabe algum passageiro com destino a Itacatratinga do Sul tenha levado a pequena para novas aventuras.

Não há como saber.

Espero que alguém, independente de quem, o esteja lendo agora.

Essa é a idéia, que começou com uma boa ação do Rodolfo e uma desconhecida numa peça envolvendo Adélia Prado, muitos anos atrás, e que, confesso, demorou a virar prática. Meu apego ao “MEU” é forte e “esquecê-los se tornou algo difícil de fazer.

Espero também ouvir, em alguns anos, alguma história envolvendo esse livro ou algum outro, na mesma corrente.

E para dar continuidade aguardarei uma nova história emocionante, digna. A “matemática financeira” que estou lendo agora não vai interessar muita gente.

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